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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Sabedoria de Preto Velho...

NATAL!!!
Sabedoria de Preto Velho...
O natal está chegando e muita gente fica triste mas nem sabe o proque né fios. Natal é alegria, esse povo tem que muda o pensador para coisa mió. Jesus nasceu foi pra traze alegria e não tristeza. A tristeza está no coração de quem não acredita na felicidade e Jesus é alegria, é felicidade, porque Ele veio para ensinar todos nós a amar e amar é tão simples né muzanfios nóis é que complica, acha tudo difícil , tudo complicado, mas na verdade é tudo simples e tudo fácil.
Natal é nascimento e nascimento de um novo pensamento, um novo momento de renovação, de melhorar, de rever pensamentos e atitudes, momentos de reflexões, refazer caminhos, isso é natal , é renovar, reaprender, resignificar, (nego veio falando difícil né fia, rsrs), aproveitar o natal para fazer tudo isso, rever tudo o que fez durante o ano, apontar o que deve melhorar e o que deve permanecer, assim cada um de nóis vamos percebendo quem somos, o que estamos fazendo, o que aprendemos e o que ainda precisamos aprender.
Natal é momento de alegria de agradecer, de lembrar de coisas boas também, de sorrir, de dizer palavras bonitas, de pedir perdão, de perdoar e de amar. De se sentir irmãos uns dos outros, deixar fluir a fraternidade, o bem querer, a tolerância, a aceitação dos diferentes e desejar o bem maior para toda a humanidade.
A humanidade está precisando de se reconhecer filhos de Deus e de se reconhecerem irmãos e se respeitarem como tal. Irmãos que se amam e que trabalham unidos para a evolução de ambos. Vamos espalhar o amor junto com Jesus, Ele está aí esperando que todos abram seus corações para que Ele possa entrar e dizer a cada um Eu te amo, as bençãos do Pai que estás no céu se derrama sobre ti neste momento e a minha paz eu vos dou.
Que nosso Senhor Jesus Cristo seja louvado e que Ele esteja em todos os lares e que o Seu amor possa permanecer com todos que abrirem seus corações com alegria.

Adorei as almas

Manias



Para com essa mania de dizer que vai morrer sozinha, para de ficar dizendo que você tem o dedo podre para escolher alguém. Para de falar que ninguém nota seu sorriso, que seu cabelo é feio, que sua barriga tá grande, seu corpo não é o ideal para fazer alguém olhar para você. 

Enquanto você tá aí se enchendo de defeitos, em algum lugar tem alguém que daria a porra toda para conhecer alguém exatamente como você, exatamente com esse sorriso, com esse cabelinho meio atrapalhado, com esse jeitinho tão carismático e aconchegante que, mais parece um abraço. Por favor, para com esse egoísmo de ficar dizendo que nunca ninguém vai te querer e começa a olhar ao teu redor, tenho certeza que você tá cheia de admiradores e nem sabe.

Não sabe porque ao invés de tá feliz exatamente por ser do jeitinho que você é, tá se lamentando pela beleza que só você não consegue enxergar. Moça, você é linda exatamente desse jeitinho, entende isso de uma vez por todas. Olha esse teu sorriso, cheio de luz, parece até um convite para a felicidade. Olha esse teu olhar, meigo e tão doce, esse teu jeitinho carinhoso e manso que, mais parece paz.

E quer saber? Se você ainda não encontrou alguém, não se preocupa, essa pessoa logo logo vai aparecer e, quando você encontrá-la, pode apostar que ela vai te dizer: “eu sempre sonhei em encontrar alguém como você” e inexplicavelmente, essa frase vai te dar a certeza de que realmente você é amada e que encontrou exatamente a pessoa que você deveria encontrar.
 
Não precisa ter pressa, não precisa tá procurando e muito menos com medo de ficar sozinha. Essa pessoa vai chegar quando você menos esperar e vai te fazer feliz de uma forma que você nunca pensou em ser. Acalma esse coração e comece a acreditar mais em você. 

Por: @luucaspraxedes
@namedidadoamor

Oxum

Quando estou no altar católico, olhando pelos meus filhos na terra me chamam de Maria.

Quando me contemplam no alto de uma montanha em meio a ruínas me chamam de Vênus.

Quando me adoram em outra colina me chamam de Afrodite.

Quando me cultuam num grande rio na Índia, sou Lakhmi.

Quando me veneram junto a grandes guerreiros me chamam de Fréya.

Quando me conhecem como uma sereia da América posso ser Ixchel ou Yara.

Quando me cultuam num rio chamado Congo posso ser Ksimbi ou Ndandalunda.

Quando estou no rio Otì, no Togo sou Aziri.

Quando nasço em Oxobô recebo o nome de Oxum.

Posso ser quem você quiser.

Prazer, sou a água!
Lindo texto do babá Alexandre Cheuen 📷@rafamattei

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Iansã não é Santa Bárbara! Santa Bárbara não é Iansã

Texto maravilhoso da @tiamaoficial

Iansã não é Santa Bárbara! Não é e não quer ser! Santa Bárbara não é Iansã e não quer ser! Duas senhoras que são a personificação da força, da determinação e de coragem de assumir suas escolhas! Por isso, eu acho absurdo resumir uma a outra! São duas! Cada uma tem a sua história! 
Santa Bárbara morreu em nome da sua fé! Foi brutalmente assasinada pelo próprio pai! Um nobre chamado Dióscoro, que não aceitava ter uma filha cristã. Degolou a filha e a cabeça de Santa Bárbara rolou pelo chão, um raio riscou o céu e um enorme trovão foi ouvido pelo povo. E, para o assombro de todos, o corpo de Dióscoro caiu no chão sem vida, atingido pelo raio. Parece que a natureza se revoltou contra a atitude desse pai infanticida. Depois deste fato, Santa Bárbara ganhou o status de "protetora contra relâmpagos e tempestades", além de ser nomeada Padroeira dos artilheiros, dos mineradores e das pessoas que trabalham com fogo.
Oyá foi uma mulher que viveu vários amores, mas que sempre foi independente! Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence. 
Para quem não sabe, Iansã é um título que Oyá recebeu do Xangô, por sua bravura e dedicação para desbravar novos espaços! Mãe de nove crianças, ela seguiu lutando e quando foi preciso se transformou em búfalo para proteger suas crias, mas nunca perdeu a leveza de ser uma 🦋 borboleta! 
Não reduza uma a outra! São duas! Duas guerreiras que merecem nosso respeito!

Salve Santa Bárbara! Epahey Oyá!

Ser de Iansã

Ser de Iansã
É ter um exército de loucos
a avançar sobre sua cabeça
e não se desesperar;
à sua frente corre Bagan. 
Mojuba, senhora dos passos firmes
que marcha e golpeia as maldades do mundo
com garra e destemor.
Nada reclamarei ao lado teu

Ser de Iansã
É ver o mundo congelar
com a frieza dos corações
e não sentir o arrepio
Que Kará já te abraçou.
Mojuba, senhora do tacho mais quente
que alimenta os filhos mesmo faminta após a batalha
De nada sentirei falta ao lado teu
Ser de Iansã
É ter o chão se abrindo sob os pés
e não se apavorar,
que quem te põe no ar é Gambelê.
Mojuba, grande mãe, senhora conhecedora dos dois mundos,
que não teme a face da morte e faz sorrir a face da vida.
Nada temerei ao lado teu
Ser de Iansã
É ver se aproximando
destruidora e impetuosa queda d'água
sem te afogar.
É Onira quem caminha sobre o rio caudaloso.
Mojuba, minha senhora, revoada de borboletas
raio de ouro na manhã de sol após a tempestade.
Que jamais perderei a fé ao lado teu
E não há provas no mundo
que superem as agruras dos seres de Iansã,
porque se o ditado diz
que Deus dá o frio conforme o cobertor,
nascemos de Iansã e de Iansã morreremos
porque não há ninguém nesse mundo
que como Ela, que nos escolheu
saiba transformar guerra e dor
em triunfo e amor.
Ser de Iansã
é conhecer o frio
e dispensar o cobertor.
Pois o abraço de Mãe é mais quente.

@barravento.oficial

itã

A PEDRA DO RAIO⚡️ Existem muitas versões desse itã, que conta como Oyá e Xangô dividem o poder do raio. 
Diz a lenda que Xangô teria sabido que Ossanha tinha uma pedra mágica chamada Okutá. Aquele que tivesse os fundamentos dessa relíquia conseguiria lançar fogo pela boca e pelos olhos. 
Mas Xangô estava muito fraco pra uma viagem tão longa e envia sua esposa preferida para lhe trazer a encomenda. E aí que as lendas se diversificam.

A que ouvi primeiro dizia que Oyá não tinha intenção de abrir o pacote e ter poder sobre a pedra, mas ficou sabendo no caminho de volta que o amado esposo estava à beira da morte sem esse poder. Ela então usa parte dos poderes para se transformar em um tornado de tempestade e chegar até Xangô o mais rápido possível. 
Embora o ato de amor tenha sido lindo, ele se incomoda que ela também tenha o mesmo poder. Os dois entram em guerra e só Orunmilá consegue apartar o conflito fazendo com que só com Oyá, Xangô pudesse usar o fogo e vice versa. Tornou os dois iguais e dependentes um do outro.

Pararam de brigar e entenderam que o amor deles não fazia um a metade do outro, mas seres que juntos são mais poderosos. Desse dia em diante Oyá vem na frente riscando o céu com seus relâmpagos para que Xangô acenda o fogo do trovão e faça a terra tremer!
 Kaô kabecilé!
 Eparrey!! Conhece outra versão dessa lenda? Deixa nos coments!
@PUROAXE

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Camisas masculina temáticas

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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

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sábado, 3 de novembro de 2018

Pensamentos desistência

Hoje eu pensei em desistir, largar tudo, seguir outro rumo, de joelhos chorando pedi a Oxalá um caminho novo. Foi quando eu senti meu coração acelerar, senti uma força muito grande, meu corpo arrepiou, suava frio, quando abri os olhos todos os meus guias estavam em minha frente.

O primeiro a me abraçar foi meu preto velho, e ele me disse: "Filho serei sempre o abraço que você precisa na dificuldade, comigo você pode sempre contar."

Logo em seguida veio a preta velha, sorriu, pegou um terço que estava em seu pescoço coloco em minha mão e disse: "Filho quando estiver com o coração amargurado e com medo, ore com fé que eu venho lhe ajudar."

Logo em seguida meu caboclo deu um brado tão forte que me arrepiei dos pés a cabeça, e me disse: "No meu brado todos os seus medos e inseguranças vão perder a força."
Logo em seguida veio minha cabocla e me olho firme, tirou uma pena do seu coçar e disse: "Seja leve feito uma pena, mas saiba aonde pousar."

Logo em seguida veio meu erê, me rodeou jogou uma luz colorida e disse: "Vim colorir seu coração, ele anda muito triste."
Logo em seguida meu boiadeiro pegou seu laço e começou a rodar, tocou seu berrante e disse: "Enquanto eu for boiadeiro filho nenhum dos meus se perde na estrada."

Calmamente meu cigano me olhou, piscou e disse: "Seja livre feito o vento, saiba caminhar alegremente é quando estiver perdido é só olhar para as estrelas, olhe, que lá vou estar para lhe guiar."
Quando eu ia me levantar olhei para o lado e minha pombogira me deu a mão e disse: "Todas às vezes que você cair eu vou lhe ajudar a levantar, no chão você nunca vai ficar."

Lá na porteira dando segurança, meu Exú deu uma gargalhada e disse: "Gostou moço, da surpresa? Desistir pra que rapaz? Olha quantas pessoas acreditam em você. Enquanto nós espíritos formos firmes em sua vida, seu caminho será sempre a Umbanda" e com um lindo sorriso ele bateu seu tridente no chão e todos os espíritos se foram.
Foi quando eu olhei pro congá e vi das mãos de Oxalá uma intensa luz a minha frente, senti uma enorme paz, vi meu pai Oxóssi me abraçar e me cobrir com as folhas de sua mata.

Vi minha mãe Yansã levantando vento e tirando tudo de negativo que eu mesmo coloquei em meu caminho. Logo em seguida, todos os Orixás me abraçaram e foi aí que percebi que a Umbanda será sempre a luz que guia meu caminho. Que qualquer estrada que eu caminhar, a força que eu carrego ao meu lado sempre vai estar."
Axé

 Jefferson Santana facebook.

Reflexão


Ninguém vai à igreja pedir ao padre um marido que já é marido de outra.
Ninguém vai a missa pedir a destruição da vida de uma pessoa.
Ninguém pede que o padre interceda junto a Deus para que Este lhe arrume clientes que se submetam a ser enganados e extorquidos...
As pessoas vão a suas igrejas para agradecer pela vida...pela saúde...pela paz....
Não vão em busca de fortunas...vão para rezar...não vão para exigir....vão para pedir...
Muitos vão também para fazer a linha social é claro...
Está certo que Orisà não é religião...mas...porque que a maioria que busca Orisà não compreende que a dignidade, a ombridade, a sinceridade, a verdade tem que ser ainda maior?
Porque pensam que Orisà está para servi-los?
Será porque são negros? Sera resquicio da mentalidade escravocrata? Será que os que assim agem, pensam que Orisà é obrigado a alguma coisa?
Pois é...não é não...não é obrigado a nada!
Orisà não é agência de matrimonio.
Orisà não é agência de emprego.
Orisà não é integrante dos Vingadores.
Orisà não destrói lares (pelo contrario)
Orisà não é promiscuo
Orisà é vida...é saúde...é paz....é verdade....é dignidade....é sagrado...é divino...
Portanto, se acendeu uma vela para Deus na igreja e não obteve o que quis, não vai achando que vai ascender uma vela para o Diabo e que tudo se resolverá.
O mesmo Deus de lá é o de cá...com a diferença que, enganado pelo preconceito, muitas pessoas acabam por mostrar suas verdadeiras faces, tendo em vista que para o "Diabo", que tem tantos pecados, não há necessidade de manter as máscaras.
Texto facebook de Jose Roberto Regina Gonçalves

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Pèrègún não me perca



Pèrègún não me perca

Texto e desabafo de Stela Guedes Caputo, em 15/10/2018
Se o candidato da violência ganhar,

para mim, nenhum xirê será mais o mesmo.
Não vai ser possível olhar meu irmão na roda e reconhecer nele, aquele que ajudou a eleger um racista.
Para mim, nenhum ritual será mais o mesmo.
Nem as águas de Oxalá, quando a casa fica em silêncio, os passos quietos, Oxalá no poço, torturado.
Não será possível, sob o alá de um sofredor, olhar minha irmã no rosto e reconhecer nela
aquela que ajudou um torturador chegar ao poder.
Nenhuma fogueira de Xangô queimará do mesmo modo.
Nas chamas do orixá justiceiro,
será difícil abraçar qualquer irmão que tenha ajudado a injustiça a se espalhar por nosso país.
Nenhum Olubajé será mais o mesmo. 
Quando o banquete for distribuído na folha de mamona, como recebê-lo de quem ajudou 
a eleger um homem que ampliará a fome de comida e significados?
Nenhuma celebração das yabás será mais a mesma.
Na comemoração das mulheres ancestrais negras, com ver a casa cheia de mulheres onde muitas ajudaram a eleger um misógino?
Nenhuma festa de erê será a mesma nos terreiros. Como festejar a infância se ali, arrumando as jujubas e os suspiros, verei também os que ajudaram a eleger um homem que faz a mão de uma criança virar arma?
Nenhuma função de caboclos será a mesma nos terreiros, para mim.
Como cantar os pontos mais lindos para Jurema, Tupinambá, Sete Flechas, Pena Verde, Cobra Coral, junto com irmãos e irmãs que ajudaram a eleger um homem que acabará com o pouco que resta das terras indígenas? 
Como deitar na esteira ao lado do meu irmão negro que, votando contra si mesmo, ajudou a acabar com a política de cotas sociais no país?
Justo ali, em nossa casa, onde muitas famílias negras se alegravam, dia desses, por terem coseguido que uma filha fosse a primeira da família a concluir o ensino superior graças as cotas?
Como lavar os pratos de meus irmãos e irmãs pensando que ali comeu alguém que, mesmo preocupado com seu filho negro voltando para casa,
ajudou a eleger um homem que prometeu armar uma sociedade onde as principais vítimas são os jovens negros? 
Como arrumar o acaçá em paz sabendo que a paz que já nos faz tanta falta desaparecerá para nós?
Como trocar bençãos com meu irmão ou irmã gay e não me atordoar com seu voto em um homofóbico declarado?
Ou não me atordoar com aqueles que deviam proteger seu irmão do crime de ódio, mas também votaram no homofóbico?
Como dançar, em torno de atabaques que trazem o choro dos ancestrais negros e negras?
Mas trazem também sua coragem para enfrentar os senhores brancos e seus chicotes?
Como então dançar junto a quem ajudou a eleger aquele que disse que os negros hoje não servem nem para procriar?
As palavras foram espatifadas em cacos finos de vidro. Elas cortam tanto a língua de quem fala como
o inatingível ouvido do outro, da outra.
O sentido de tudo está ferido e sangrando.
Ao menos dentro de mim, mesmo que o nosso candidato ganhe.
Uma vez, meu Pai de Santo, Daniel de Yemanjá, perguntou: "vc sabe porque um iaô carrega a folha do Pèrègún na saída de sua iniciação? Vc sabe porque na maioria das casas de santo tem um Pèrègún na porta?" Eu respondi que não e ele me disse: "o Pèrègún é o alicerce, a coluna de todo o iniciado. Ela está também nas casas de santo para mostrar o caminho toda vez que você se perder. Não se perca do Pèrègún e não deixe que ele te perca." 
Que nunca nos falte então as folhas do Pèrègún e que, ainda que nos percamos, ele sempre nos traga de volta o sentido.
Exu Onan também nos abrace, erga e seja caminho todos os dias, porque amanhã: resistiremos!

Méritos rede social de Mae  Stella de Oxosse.

sábado, 23 de junho de 2018

Iluminando as Sombras da Culpa

Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem.”
As sociedades ocidentais carregam uma profunda relação com o sentimento de culpa. Encontramos sua raiz no Catolicismo Romano, na qual a morte de Cristo é de responsabilidade de todos, afinal, ele veio e nós e o matamos. A influência maciça da Igreja Católica, principalmente na Idade Média, contribuiu e ainda contribui para a formação subjetiva de milhares de pessoas.

“Por minha culpa, minha tão grande culpa "– (Ato Penitencial)


O espírito é imortal e a reencarnação permite que ele utilize o invólucro carnal quantas vezes forem necessárias para a sua evolução. Posto isso, é de se pensar que um sentimento tão forte como o da culpa acompanhe o espírito por várias encarnações, tanto pelo delito cometido quanto pela construção subjetiva que o espírito faz dele. Essa concepção do ato, a carga emocional que o espírito atribui, é mais importante do que o ato em si, pois ela determina o quanto o espírito vai se envolver para elaborar a situação. A ideia da morte de Cristo é consideravelmente simbólica nesse sentido, pois mesmo não tendo ligação direta com o ato, milhares de pessoas se percebem estruturalmente como pecadoras pela crucificação. Ao compreendermos a imortalidade do espírito, a questão da culpa adquire proporções ainda maiores, e que nos ajudam a entender porque ela é um dos maiores objetos de estudo da Psicologia Moderna. Freud vai encontrar na culpa uma das bases estruturantes do psiquismo e da formação do Inconsciente. O complexo de Édipo, determinante para a construção da personalidade do sujeito, tem como ponto central o recalque, que é quando o sujeito reprime e “joga” para o Inconsciente as ideias incompatíveis com o eu. Porém, essas ideias continuam presentes no Inconsciente do sujeito, e com elas, a culpa por tê-las. E a forma como o sujeito vai lidar com isso poderá gerar sintomas e (muito) adoecimento.Freud não conhecia o Espiritismo, mas suas teorias a respeito do Inconsciente contribuem bastante para entendermos os processos do Espírito. De certa forma, o que Freud chamou de Inconsciente -aquilo que existe no sujeito, faz parte dele, influencia diretamente sua vida, mas que ele não tem acesso direto- o Espiritismo pode chamar de memória da alma. Quando reencarnamos, recebemos o véu do esquecimento que não nos permite ter acesso ao que fomos em vidas anteriores, porém, nossa personalidade e nossa vida sofrem influência direta de nossos atos de outras épocas. E ela, a culpa, bem como a forma que lidamos com ela, está diretamente presente nisso. O que seria, afinal, a culpa? Em resumo, o sentimento de culpa (e aqui é importante frisar que se trata do sentimento, e não do ato de culpa, que cabe a Justiça e vem como penalização) é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido. É na consciência que surge a culpa, mas essa não é necessariamente a função da consciência. Ao percebermos que cometemos um erro, devíamos passar diretamente para o estágio do arrependimento – a necessidade íntima de corrigir o que foi feito, ou, se isso não for mais possível, pelo menos compensar de alguma forma. Mas às vezes a consciência estaciona no sentimento de culpa. O sentimento de culpa é o colapso da consciência. Muitas pessoas acreditam que culpa e arrependimento são a mesma coisa, mas não são. O arrependimento pressupõe ação, pois é o ímpeto de cometer ação contrária à que ocasionou sua tristeza. O arrependimento é a dor sentida pela dor causada. Por isso o arrependido desenvolve o firme propósito de não repetir o erro, de reparar o dano causado ou de compensar o erro com acertos. O espírito arrependido está em processo de autocura.É o arrependimento que nos leva a nos comprometermos com o reajuste em relação a outros espíritos. É o arrependimento que norteia os rumos parcialmente traçados antes de nosso reencarne. Mas para o espírito evoluir, só o arrependimento é suficiente? No livro "O Céu e o Inferno", Kardec nos diz que Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. A expiação envolve o sofrimento pelo qual se expia uma falta cometida. Na expiação, o espírito vivencia aquele mal causado a outrem, de forma que através dessa experiência ele resgate a falta cometida e vivencie a dor que um dia infligira a alguém.Pode-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus, explica "O Evangelho segundo o Espiritismo".Joanna de Ângelis conceitua que, na prova, matriculamo-nos na escola para aprender, e que na expiação nos internamos no hospital para sofrer. E é exatamente isso que acontece. O planeta tanto é um educandário, como também um hospital, ambos sempre abertos para nos acolher. Emanuel afirma que “a provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime”. A reparação consiste em fazer o bem a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros nesta vida por fraqueza ou má vontade, achar-se-á  numa existência posterior em contato com as mesmas pessoas a quem prejudicou, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes o seu devotamento, e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito, eluciada Allan Kardec em "O céu e o inferno".Existe um ponto fundamental nesse processo evolutivo: o auto perdão. Conseguiremos o perdão do outro se nós mesmos não nos perdoamos pelo que fizemos? Perdoar-nos é não nos apegarmos ao que fomos, pois a renovação está no instante presente e o que importa é como somos agora e quais são as determinações atuais para o nosso progresso espiritual.
Por isso Deus nos concede um novo dia, uma nova vida, um novo corpo: para recomeçarmos!
Tags: Joana de Ângelis





O QUE É ESPIRITUALIDADE

O QUE É ESPIRITUALIDADE


Espiritualidade não é uma religião, não é uma doutrina, não é o sacerdócio, não é uma crença e nem uma opinião.
Espiritualidade é um modo de vida, é um estado de espírito, é uma abertura mental, é uma aspiração à transcendência.
Espiritualidade é sentir arder uma chama interior que ilumina nosso caminho no caos e nas trevas que vivemos no mundo.
Espiritualidade é a confiança expressa nas palavras “Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, nada temerei.”
Espiritualidade é entender que somos como crianças tomando uma vacina, que machuca muito na hora, negamos, gritamos e esperneamos, mas que depois imuniza nosso espírito.

Hábitos de pessoas extremamente empáticas 1
Espiritualidade é ir além, é a consciência de que a vida não se encerra na morte, de que é preciso haver continuidade dentro da descontinuidade. De que tudo que começa, termina; tudo que nasce, morre; tudo que vai, volta. De que para cada problema há uma solução, para cada lágrima derramada há sempre um consolo e para cada perda há sempre um ganho.
Espiritualidade é reconhecer um propósito em todas as coisas, e recusar a existência da sorte, do azar e do acaso. É ter paciência e confiar que, um dia, o significado de tudo será desvendado.
Espiritualidade é dar de si mesmo, é renunciar ao pequeno para obter algo maior, é abdicar de nossas pequenas posses para ganhar tudo o que sempre nos pertenceu. É fazer das florestas do mundo nosso jardim, é fazer do céu o nosso teto, é fazer dos mares e rios a nossa piscina, é fazer da Terra a nossa casa. É cuidar do tudo, de cada ser e coisa, e não apenas de nossos escassos bens terrenos.
Espiritualidade é ver por dentro, é não se deixar levar pelas aparências, é reconhecer o essencial em cada mínimo aspecto da vida, é satisfazer-se com pouco para obter muito, é rasgar o véu da ilusão e desejar entender o mistério da vida.
Espiritualidade é pedir pouco e agradecer muito. É dar muito e nada pedir em troca. É fazer sem esperar retribuições. É perdoar, é arrepender-se, é refazer, é renovar, é reaprender a ver o mundo e a si mesmo.
Espiritualidade é fazer do seu professor o lírio do campo, as árvores ao vento, a tempestade nebulosa, o orvalho numa flor, a borboleta esvoaçando, o rio fluindo, os pássaros cantando. É aprender com a mais insignificante criatura.
Espiritualidade é deixar o humano morrer para o divino nascer. É trazer o céu para a Terra. É viver na Terra o céu que desejamos após a morte. É debruçar-se no inferno resgatando as almas perdidas e errantes. É ser uma luz no meio da escuridão.
Espiritualidade é dormir quando se tem sono, é comer quando se tem fome, é olhar a montanha e ver a montanha, é molhar as mãos no rio e sentir o frescor das águas, é ver aquilo que está ali, é não intelectualizar tudo, é sentir a essência das coisas e mergulhar na essência da vida.
Espiritualidade é estender a mão aos que sofrem, é dar conforto aos que choram, é dar abrigo aos sem teto, é dar conselhos aqueles que se perderam, é esclarecer aqueles que têm dúvidas, é dar de si mesmo em prol de todos, é fazer o bem pelo bem, é morrer pela verdade para renascer na plenitude.
Espiritualidade é dispensar as palavras e os discursos fúteis e navegar nas paragens do silêncio interior. É aprender a ouvir a vida, a ouvir a si mesmo, a diminuir a corrente dos pensamentos, é tranquilizar o turbilhão das emoções, é fazer circular as energias, é deixar tudo fluir.
Espiritualidade é viver na simplicidade, naturalidade e na espontaneidade. É libertar-se de tudo o que é passageiro, perecível, transitório. É mergulhar na vida sem medo, sem travas, sem amarras, sem correntes, sem bloqueios. É viver, e apenas viver, sentindo a vida como ela é. É não precisar de nada, não depender de coisa alguma, não se deixar influenciar pelas marés agitadas da confusão.
Espiritualidade é libertação, é humildade, é fé, é amor e é esperança.

QUEM É O OBSESSOR

QUEM É O OBSESSOR
Foto de Gregori Frezza Palavre.
Muitas pessoas religiosas acreditam em espíritos malignos, demônios e obsessores. 
Essas seriam entidades espirituais que podem nos prejudicar e sugar nossas energias. 
No entanto, muitas vezes nós mesmos somos os obsessores das outras pessoas. 
Somos os obsessores quando desejamos fazer prevalecer nossas idéias e impor nossas verdades a outrem. 
Somos os obsessores quando criticamos, julgamos o condenamos o outro sem pleno conhecimento de causa. 
Somos os obsessores quando temos ciúme e queremos obter a posse do outro. 
Somos os obsessores quando batemos o pé e forçamos o outro a seguir a nossa vontade. 
Somos os obsessores quando exigimos que o outro faça por nós algo que nos cabe fazer. 
Somos os obsessores quando desejamos vencer uma discussão, instituir nossas verdades e firmar nosso ponto de vista. 
Somos os obsessores quando burlamos o livre arbítrio alheio e o fazemos trilhar o caminho que nós julgamos correto. 
Somos os obsessores quando tentamos ajudar sem nos preocupar no que é melhor para o outro, mas sim seguindo apenas o que nós acreditamos ser o melhor. 
Somos os obsessores quando desejamos comprar o afeto das pessoas com presentes, regalias, benesses e mimos, esperando sempre algo em troca. 
Somos os obsessores quando não permitimos que o outro cresça, se desenvolva, para não se tornar melhor do que nós. 
Somos os obsessores quando fazemos tudo pelo outro e não permitimos que ele faça, erre e aprenda sozinho. 
Somos os obsessores quando vomitamos um longo falatório desordenado e fútil acreditando que o outro tem obrigação de nos ouvir. 
Somos os obsessores quando não damos espaço para o outro, o prendemos, o sufocamos, podamos seus movimentos, cobramos, oprimimos, sem permitir sua independência. 
Somos os obsessores quando acreditamos que o outro deve corresponder aos nossos padrões, nossos modelos, nossa religião, nossos costumes, nossas crenças e nosso ideal de ser. 
Somos os obsessores quando geramos milhares de conflitos, discórdias e desunião, quando criamos confusão, intrigas, fofocas e distorcemos a realidade para prejudicar o outro. 
Somos os obsessores quando dissemos uma coisa ao outro e fazemos outra, enganando, omitindo e dissimulando. 
Somos os obsessores quando vivemos reclamando e acreditamos que o outro tem obrigação de aguentar nossas lamúrias. 
Somos os obsessores quando elogiamos para manipular, louvamos para enganar, enchemos o ego do outro para confundi-lo a fazer o que queremos. 
Somos os obsessores quando fazemos do outro a nossa vida e depois ficamos magoados quando ele se afasta deixando um buraco em nosso peito, um vazio existencial e uma profunda infelicidade. 
Procure a vida em ti mesmo. Não seja mais um obsessor do outro. 
Não dependa de ninguém para ser feliz. Não fique sugando as pessoas. 
Não acredite que o obsessor é sempre o outro… 
Há sempre algo de obsessor em nós mesmos.

Barravento

Parti pro mundo enorme, precisava sobreviver
De guias, mokan, roupa alva,
Ser Yawo merece todo o cuidado
contra-egum e lenço branco no ori
Sou recém casada! "Cabeça baixa, olhos no chão 
Silêncio, mantenha a calma interior. "
Repetindo o mantra
Fui comprar uma rosa branca
Mas em troca de uma benção
a ganhei do vendedor.
Por cada rua que passava,
querendo que chegasse logo minha casa
uma legião de olhos me acompanhava.
Curiosidade, espanto, admiração
Nenhuma dessas emoções me incomodava
Mas quando senti a tal intolerância na pele
Não consegui ignorar, não.
Esperando o ônibus, deu meio-dia
E fui correndo pra debaixo de uma sombra pedir agô
Ali concentrada, me sentindo mareada
Chegou perto de mim um tal senhor.
Entre berros e palavrões, dizia que Jesus me amava
Falava sobre o sangue de Cristo, que expulsava as mazelas
Enquanto me xingava. [Todos passavam e ninguém fazia nada]
Ali parada, perdida entre a vontade de sair correndo e chorar
Pensei ser prova necessária pra alguém que acabou de iniciar.
"Qual o problema, que ninguém diz a esse homem pra parar?
Não foi Jesus mesmo quem disse que nós devemos nos amar?" Olhei pra minha rosa, e lembrei do mensageiro Verger
disse que minha religião sobrevive
Porque não impõe verdade absoluta
a ninguém que não queira ver!
Meus ancestrais não impuseram
e sob as chibatas, sobreviveram firmes.
Deixemos as pessoas serem felizes
serem livres!
Permanecendo calada e triunfante
Por ter vencido aquele sentimento ruim
Veio alguém pra me ajudar
E tirou o homem de perto de mim.
Esse último, na despedida
Disse que a palavra de Deus salvava sim (como quem pudesse me converter)
E que com o comportamento do meu opressor
não tinha nada a ver. "Respeito sua fé, moço,
todos podem acreditar - ou não - no que for.
Mas já está na hora de tirar preconceito - e o desrespeito - do caminho
que eu quero passar com a minha flor."
.
Asé ô 🙏
Texto: Thais de Oyá - Barravento
📷: @olhardeumcipo
Via @filhosdocandomble
Foto de Puro Axé.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Documentário “Exu e a Ordem do Universo” desmistifica papel da divindade no ocidente



Ainda hoje, falar de religiosidade afro-brasileira é sinônimo de polêmica. Principalmente quando o assunto é Exu, uma das divindades mais demonizadas na cultura ocidental e, mais precisamente, no Brasil. Com o objetivo de desmistificar esta imagem negativa atrelada ao Orixá, o publicitário e cineasta de São Paulo, Thiago Zanato, de 39 anos, decidiu ir para a Nigéria conhecer de perto a ancestralidade africana.
Sua viagem ao país africano deu origem ao documentário em processo de produção “Exu e a Ordem do Universo”, que é dirigido e roteirizado por ele. Junto com o paulista, somam-se ao projeto com previsão de lançamento para 2019: Marco Antonio Ferreira, como diretor de Fotografia; Danilo Santos, como editor, além de Adriana Barbosa e o cantor Nasi, vocalista da banda “Ira!”, como produtores executivos. Thiago também já atuou como diretor do documentário “La Flaca”, lançado este ano, que traz como temática o culto à Santa Muerte, uma figura sagrada venerada no México.
“Exu e a Ordem do Universo” é seu primeiro trabalho focado na ancestralidade africana?
Sim, esse é meu primeiro trabalho focado na ancestralidade africana. Antes de ser convidado para fazer parte do projeto, eu já realizava pesquisas sobre a espiritualidade sob o prisma social e político. E o curta “La flaca” já tinha um viés religioso, social e político. Foi a partir deste trabalho que surgiu o convite para fazer parte do projeto que, até então, era apenas fotográfico e começou em 2015.
Quando surgiu a ideia de produzir este documentário?
Em agosto de 2017, fui para a Nigéria fazer uma pesquisa de campo para ver se valia a pena desenvolver o projeto. Achei interessante e vi que era válido desenvolver a ideia. Comecei a desenvolver o roteiro. Em seguida, começamos a produzir o teaser que está no ar. Na época, o time era um pouco menor.
Uma das razões para eu ter escolhido Exu foi porque durante o processo de pesquisa, o primeiro livro que veio parar na minha mão era justamente sobre essa divindade. Já tinha ido a um terreiro antes, mas não era frequentador assíduo. Sempre gostei da Teologia Africana, sempre achei bem atraente, leio muito sobre, ainda frequento terreiro de vez em quando, mas não sou adepto. Posso dizer que sou apenas um admirador da religião.


Thiago Zanato é diretor e roteirista do documentário. Foto: Arquivo Pessoal

Quanto tempo duraram as gravações? O processo de produção foi muito trabalhoso?
Na verdade, as gravações não terminaram ainda, o processo está sendo bastante trabalhoso. Já acumulamos mais de 100 horas de material. Precisamos ver e rever o roteiro. É um verdadeiro vai e vem até encontrarmos a forma ideal para o filme. Há entrevistas que são em Iorubá. Então, o material acaba se tornando bastante complexo. Houve um momento especial que você elegeria entre o que vivenciou até agora?
Eu acho até difícil apontar um momento. Talvez o mais impactante tenha sido na Nigéria. Ver o jeito que as coisas são feitas lá foi bem diferente do que eu esperava. O que mais me marcou foram as relações entre as pessoas no contexto religioso. Achei a relação entre eles muito bonita. A hierarquia ali era muito horizontal, era uma união muito forte. Apesar de eu ser branco, eles me receberam de coração aberto. Fui muito bem recebido. Lá a hospitalidade é um traço bastante característico, é uma cultura muito receptiva.
Quais foram as locações?
Iniciamos gravando 15 dias na Nigéria. Em seguida, mais 15 dias em São Paulo e, em junho, iremos realizar gravações na Europa. Lá vamos fazer registros na Eslovênia, Espanha e Croácia. Nestes países, o culto aos Orixás está começando a se espalhar. Já existem alguns terreiros associados ao Oduduwa. Futuramente, iremos realizar mais gravações no Brasil, mas o local ainda não está definido.
Quem são as personalidades que contribuem com depoimentos ao longo documentário?
O filme traz alguns personagens principais. Até agora, temos depoimentos do professor Babá King, o Nasi também entra como um dos personagens, tem a Jasmina, que é Eslovena. A Yiákemi Ribeiro, que é coordenadora do Grupo de Pesquisa Estudos Transdisciplinares da Herança Africana (CNPq-UNIP) e a Tânia Vargas.
O projeto conta com patrocinadores?
Até agora, é um filme completamente independente. Estamos utilizando nossos próprios equipamentos. É um trabalho grande. Então, estamos em busca de parceiros para nos ajudar a levar o projeto adiante.
Qual seu principal objetivo ao produzir um documentário que fala de uma divindade tão controversa como Exu?
O foco é desmistificar a imagem de Exu que se tem aqui no Brasil, que é essa imagem negativa, que é associada à Magia Negra e essa coisa de desmistificar Exu é bastante delicada. Os processos que levaram a essa distorção de sua imagem ocorreram em contextos históricos de grande importância para o mundo ocidental como um todo, onde o principal objetivo sempre foi desvalorizar a imagem da cultura negra. Apesar da proximidade com a questão religiosa, esse não é o único foco do filme. Há também a questão político-social que entra no âmbito da intolerância religiosa.
Que tipos de registros foram feitos?
Na Nigéria, foram feitas entrevistas com sacerdotes, visitas a lugares históricos tradicionais que são importantes para a religião, registramos também a saída de alguns Orixás. Além disso, também captamos alguns rituais que, de acordo com eles, nunca foram filmados, como os de iniciação.
Você pretende desenvolver mais trabalhos sobre outras divindades?
Pretendo fazer outros trabalhos, pois é um universo muito rico e acho um absurdo existirem poucos filmes bem feitos e que retratem a história dessas religiões. O Brasil é muito carente nesse aspecto. Sou bastante inconformado quanto à isso. Ainda não tenho algo em mente, pois ainda estou focado neste atual projeto, mas pretendo realizar outros trabalhos direcionados a esta temática.
Como está sendo a experiência de produzir este longa?
É uma experiência enriquecedora, pois é uma filosofia muito profunda, bem vasta e me ajuda bastante no meu ponto de vista brasileiro em relação às religiões de origem africana. E me ajuda também a entender porque as religiões de matriz africana são tão mal vistas. É uma oportunidade única de descobrir de onde vieram alguns conhecimentos milenares que chegaram ao Brasil que a gente tem acesso e, ao mesmo tempo, tem medo. Acho muito bizarra toda a visão que foi construída em relação a essas religiões.
*Estagiário de Redação supervisionado pela jornalista responsável Íris Marini.
http://noticiasdeterreiro.com.br/2018/04/27/documentario-exu-e-a-ordem-do-universo-desmistifica-papel-da-divindade-no-ocidente/