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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Papo de esteira



Na hora que estamos na esteira, na cozinha é o espaço onde o abiã, a iaô e até mesmo o egbomi, tem para falar sobre assuntos do dia-dia do candomblé, e o assunto que irei falar hoje é a relação Pai e filho de santo.



Natural não e mais estranho ver uma pessoa que se iniciou em uma casa e seguiu sua obrigação em outra casa, Porque isso acontece? Na maioria das vezes é um problema de relacionamento, sim relacionamento entre o filho e o pai de santo?Ou irmão de santos!?

                                  




                                                             Opinião  de abiã


Quando entramos em uma casa de santo, procuramos o desenvolvimento espiritual, conhecer o orixá, mas, além disso, procuramos carinho, e o que dá mais medo é saber o que fazer, pois tudo é novo, tudo é confuso e com isso muito zeladores não entendo, eu sei que cabeça de iaô não é fácil, mas eu acho que isso é o que mais afasta os iaô das casas, as chamadas “baixas” .


Muitas vezes o iaô sai  das casas, por causa de um irmão de santo, pois existe o ciúmes dos mais velhos, e assim, quem vem de uma criação católica, cai no candomblé, não entendemos a hierárquica, e muitas casa de santo impõe essa hierarquia, e acaba tornando isso uma ditadura.


No mundo do candomblé, nos deparamos com frases como “não é a hora de você aprender” ou “é assim, porque é assim”, porque tanto mistério?, porque coisas simples são tão escondidas, se sou iniciado porque não posso saber, se amanhã me tornarei um Egbomi e aí como vou me comportar?



Pois essas são as questões que são mais apontadas pelos abiãs e yaôs, quando falamos sobre a mudança de axé, a maior questão hoje não é ter adeptos em uma casa de santo e sim mantê-los na casa de santo, há décadas atrás existiam poucas casas de santo, e era “feio” mudar de axé, como ainda existe esse conceito em casas tradicionais na Bahia, mas como em São Paulo e no Rio de Janeiro, cresce cada dia mais o número de casas de candomblé, a chamada concorrência é grande, e para isso temos que ter um grande jogo de cintura, como o tratamento ao yaô, vai lá, o que é yaô, no contexto yorubá, yaô significa noiva de orixá pode trazer para um contexto mais simples, yaô é aquele que é preparado para ser um próprio altar vivo, aquele que carrega o axé, mas também ele é uma criança, e como toda criança tropeça muitas vezes antes de andar, por isso a  paciência é uma qualidade que todo zelador ou zeladora, tem que ter, outro ponto bastante apontado são as “baixas”, saber tratar as pessoas é tido como base da educação e vem de berço, apesar de ser seu filho-de-santo, você não tem poder sobre ele, sim é isso mesmo,os zeladores tem autoridade, que é bem diferente, porque o noviço respeita o zelador? Por que ele o iniciou, por ele transmitiu o axé, certo, mas também não vamos esquecer que o yaô é um ser humano, e como esse, tem moral, tem sentimentos, e uma vez que você desmoraliza uma pessoa, mesmo que ele continue na sua casa de santo, você terá perdido o respeito, e respeito não é apenas o fato dele te pedir a bênção ou colocar a cabeça pra você, e sim quando ele está longe de você, à admiração.




As baixas ainda geram outro ponto, o medo, não só dele como dos outros adeptos, que como todo mundo sabe medo não é respeito. Por isso o mais indicado é que se chame o yaô no canto, com educação e firmeza e explique o que está acontecendo e tente ver o seu ponto de vista, e assim chegue a uma resolução.



Muitas vezes nos deparamos com pessoas que realmente não querem nada com a vida, que não sabem por que estão ali, e gostam de tumultuar, então nesse caso se a conversa não resolver, convide-o a se retirar, pois a frase “uma laranja pobre, apodrece as demais”, é puramente verdade no ambiente do candomblé. Fica aí então o recado e espero que isso ajude na administração de sua casa de candomblé, para os yaôs fica a mensagem: A casa de santo não é apenas a casa do orixá, é nossa casa também, onde está nosso coração está nosso tesouro.



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