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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Amburaxó

Conhecimento nunca é demais e quando podemos nos deliciar com textos explicativos e que relatam com riquezas de detalhes sobre nossa religião, podemos entender o porquê de muitas coisas assim também serve como lição para muitos que gostam de ficar ostentando "saberes".
Amburaxó
O Amburaxó era notadamente destacado como um culto simples, justamente por, não somente congregar em seu seio a miscigenação cultural adquirida nos quilombos, seu berço original, mas também por trazer as suas cantigas e rezas (ingorossis) a fala em português, algumas vezes entremeadas com termos yorubanos, bantos em suas mais diversas sublinguagens e rezas portuguesas, criando uma liturgia bastante diferenciada em relação às outras casas que, buscavam manter-se dentro dos ditames gnósticos e litúrgicos de suas origens africanas.
O Amburaxó, não somente trouxe para o seu culto os signos, ingorossis e cânticos miscigenados, mas também entidades, deidades, encantados e encantamentos singulares e miscigenados. Seus orixás confundem-se com os caboclos da pajelança e os santos católicos. Razão pela qual falam, comem, bebem e participam da Casa de candomblé tanto em sua administração quanto na vida espiritual dos filhos da casa, bem como interferem em trabalhos e ebós; aconselham atitudes e resolvem demandas. Não se limitam ao simples ato de dançar na sala e serem cultuados em seus pejis como os Inkisses bantus, Vodus geges ou Orixás yorubanos.
Infelizmente, como foi dito acima, tal culto está se perdendo na origem de sua raiz, mesmo porque as casas ramificadas do tronco de Amburaxó no bairro Beiru, da raiz de Miguel Arcanjo se perdeu em obrigações em outras nações e ritos, esquecendo-se de suas origens. É claro que não existe sequer uma casa de culto banto no Brasil que não traga em seus ingorossis ventos da casa Amburaxó. Uma cantiga que não se cante em português com traduções avulsas, aproximando a pronúncia e seus fonemas em bantu com palavras na língua portuguesa.

Ainda se vê em muitas casas de candomblé um as divindades Amburaxó como Ogun de Ronda, Ogum Marinho, Ogun do Cariri...costumes de incensar a casa, pois bem, estas práticas são Amburaxó. Nos cultos de matriz africana não existem tais atos. Superstições como varrer a casa de fora para dentro, desvirar os calçados, desatar os nós das roupas, fazer as romarias e o ato da missa com o Yawo inicando, ou até mesmo o ato da quitanda que serve para tirar a loucura do Erè. Atos de origem Amburaxó, criados no Brasil
Os descendentes de Miguel Arcanjo provêm de uma raiz pouco cultuada e pelo que se sabe apenas uma casa na Bahia ainda cultua esta raiz com todas as suas formas de apresentação.
Miguel Arcanjo praticava a "RAIZ DE AMBURAXÓ" e sua Inzo, que se chamava "TERREIRO DE MASSANGUA" se situava no bairro de BEIRU, hoje chamado de Tancredo Neves.
Em frente ao terreiro de Miguel Arcanjo ficava o da Mam'etu Maria Neném, o Terreiro Santa Luzia Fé e Razão (Maria Neném foi a matriarca da raiz Tombeici). Ela e Miguel Arcanjo eram muito amigos.
Miguel Arcanjo foi primeiro morador do bairro Beiru, que leva o nome de um negro escravizado, comprado pela família Hélio Silva Garcia. Ele herdou as terras antes pertencentes aos seus donos, hoje equivalente a área ocupada pelo bairro Beiru, que gira em torno de 1 milhão de metros quadrados de área.
Essas terras, após a morte de Beiru, voltaram à posse da mesma família de origem, já que o “Preto Beiru”, como era chamado, não tinha herdeiros libertos. Os Hélio Silva Garcia, em gratidão a Beiru, resolveram homenagear-lhe dando o nome Beiru à sua fazenda, como consta na escritura da fazenda datada do final do século XIX.
As terras foram então vendidas a Miguel Arcanjo, primeiro residente da área. Anos mais tarde ele viria a fundar o terreiro de Amburaxó no local onde se situava a casa grande da Fazenda Beiru. A venda das terras data de 1910. Foi assim que nasceu em 1912 a Nação de Amburaxó, na área conhecida como Jaqueira da Cebolinha, que atualmente dá nome ao Largo do Anjo-mau.
A Nação de Amburaxó, fundada por Miguel Arcanjo, se diferia dos demais terreiros por ter uma doutrina mais aberta. “Era mais fácil de aprender”, diz o filho-de-santo Eldon Araújo Laje, conhecido como Jijio, do Terreiro Insumbo Meian (Vila São Roque), localizado no Largo do Anjo-mau. Essa Nação se diferenciava das demais, como a Nação de Angola, a Nação Keto, da Nação Gêje e da Nação Banto, entre outras coisas porque todos os seus cultos eram realizados do lado de fora, aos pés das árvores sagradas, que até hoje existem no espaço que circunda o posto médico e a 11ª Delegacia. 
É dessa linha do candomblé que Miguel Arcanjo vai formar seus discípulos e que mais tarde disputarão as terras do bairro: Miguel Rufino, Olga Santos (morena) e Pedro “Duas Cabeças” que criaram seus terreiros independentes.
Depois de formados seus discípulos, já sabedores da Doutrina Amburaxó – pouco difundida, Miguel arcanjo morre, em 1941, aos 81 anos de idade, vítima de um câncer de próstata. A sua morte se deu na casa de seus filhos-de-santo Cazuza e Morena. Deixou como Herdeiras legítimas de suas terras, Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza. Como herdeiro do cargo de pai-de-santo ficou o seu filho-de-santo Manoel Jacinto.
Um pouco antes de falecer, Miguel Arcanjo adquiriu alguns pedaços de terra, entre esses ao Senhor José Evangelista de Souza (seu Cazuza). Esta área ia até o atual fim de linha do Tancredo Neves. Entre os anos de 1938 e 1944, Miguel Arcanjo de Souza moveu uma ação de despejo contra Manoel Cyriaco, que não vinha pagando seus honorários das terras arrendadas. O caso só foi resolvido anos mais tarde com a expedição de mandato de reintegração de posse das terras. Após tantas disputas, em 1979, o então governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos Magalhães resolveu desapropriar todos os herdeiros das terras do Beiru, tirando a posse de todas as terras em detrimento da instalação de um projeto de urbanização da área.

Contextualizar um culto tão antigo e sincretizado é no mínimo um exercício de investigação digna de seriado policial. Mesmo porque, as origens deste culto tão simplificado na sua compreensão e prática se dão por um processo de extrema intricabilidade, um emaranhado de culturas que se fundiram a partir da heterogeneidade conhecida principalmente nos quilombos, lar de diversas culturas provindas de diversos rincões. Sejam negros das mais diversas nações africanas, importados na diáspora escravagista, fugidos de sua condição servil, com suas bagagens mais heterogêneas combinadas com a religião cristão-católicas imposta nas senzalas, acoplada com os “arranjos” que estes escravos criaram para, disfarçadamente poderem continuar a cultuar seus orixás, criando assim, o sincretismo que ainda perdura nos cultos de matriz africana, ditosamente a Umbanda; brancos de diversas origens, fugidos ou refugiados com culturas religiosas baseadas no catolicismo e religiões protestantes, e ainda com grandes bagagens na magia européia, sejam cultos bárbaro-pagãos, quanto suas matrizes míticas e místicas, bem como indígenas que tiveram suas aldeias saqueadas por brancos portugueses em busca de expansão de suas terras, com sua cultura religiosa autóctone baseada na pajelança e culto animista.
Assim, um encontro de culturas religiosas diversas que se conluiem num rosário de sincretismo que dará origem a uma nova religião: Amburaxó, a religião mais brasileira de todas; aquela recheada com símbolos e signos de todas as matrizes que deram origem ao povo e à cultura brasileira.

Fonte :Rede social

Come

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