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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Entrevista com Babá Rychelmy Imbiriba


Nome: Rychelmy Imbiriba
Ilê Asé Ojisé Olodumare
20 anos de iniciado

O que é ser pai de santo com tão pouca idade?
Resposta: Tem coisas que não escolhemos, apenas sigo a orientação do orixá. As pessoas me procuram e faço que deve ser feito não existe expectativas apenas sigo as orientações de Ifá.

Você já sofreu algum preconceito por ser tão jovem?
Resposta: No começo de minha vida sacerdotal, sim. Quando abrí casa de santo tinha apenas 23 anos, era difícil para algumas pessoas procurar ajuda espiritual e dar de cara com um menino, isso era tão comum que todas as pessoas que iniciei nos primeiros barcos eram mais velhas do que eu . Quando as pessoas passam a conhecer a minha realidade dentro do axé essas divergências desaparecem.

Você já sofreu algum preconceito com relação a religião?
Resposta: Sofremos preconceito todos os dias. Somos perseguidos quando usamos branco, quando fazemos nossas oferendas em locais públicos, quando precisamos cumprir nossos resguardos. Os radicalistas cristãos estão sempre prontos a jogar sua religiosidade em nossa goela abaixo, seja na porta de nossas casas, nos transportes públicos ou em eventos. Porém, acredito que estamos politicamente mais articulados, cientes dos nossos direitos e prontos para o diálogo

Esse tempo dentro do Axé o que mais lhe marcou?
Resposta: É sempre emocionante nas festas de meu orixá ver todas aquelas pessoas reunidas, pessoas que nunca tinham visto, que não eram de minha família, mas que por obra do destino foram por mim iniciadas no candomblé. Pensar que raspei cada uma daquelas cabeças, vir nascer cada orixá, vivi momentos de lágrimas e sorrisos. É algo muito forte.

Algum filho seu já sofreu algum tipo de preconceito?
Resposta: Claro, já tive que ir na escola, no trabalho de filhos, resolver pendências ou situações de constrangimentos, momentos da necessidade de cumprir o resguardo do orixá. Nesses momentos, não deixo de ir pessoalmente resolver essas questões, pois cabe a mim como sacerdote zelar por aqueles pelo qual sou responsável.

O que você acha dos sacerdotes usarem redes sociais para dizer piadas e reclamar com os filhos de santo?
Resposta: Eu acredito que certos  comportamentos vem da criação, vem de família. A etiqueta e o bom tom são sempre bem vindos nas redes sociais, ninguém precisa ouvir grosserias ou lamentações, isso deve ser dito diretamente e se possível pessoalmente a quem o pai ou a mãe deve educar.

O que você diria a um pai (máe)  de santo que tem esse comportamento?
Resposta: Não tenho que dizer nada, cada um dá o que recebeu, e não cabe a mim corrigir ninguém, cada um na sua.

O fato de ser gay ou lésbica,negro ou branco  impede de ser iniciado no axé?
Resposta: Se você observou há uma enorme diversidade de gêneros, raças, opções sexuais dentro das casas de santo. Somos uma religião que abraça a essência da pessoa e não outros aspectos que não nos cabe.

Há algum tipo de seleção para se iniciar no santo?
Resposta: Não, não somos uma empresa.

O que você diria aos sacerdotes que estão abrindo roça, mexendo com o povo, com a vida das pessoas?
Resposta: Não diria nada, não cabe a mim.

Você tem algum pai ou mãe que você se espelha?
Resposta: Meu pai Gilson, minha mãe Lourdes, pai Valtinho, um grande professor, mãe Jojó do Alaketu e pai Farodê, Mãe Vera de Iansã que são exemplos dentro da religião.



Entrevista cedida com muito carinho pelo Babá Rychelmy Imbiriba ao contosdeumaabia. 


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