Nome: Rychelmy Imbiriba
Ilê Asé Ojisé Olodumare
20 anos de iniciado
O que é ser pai de santo com tão pouca idade?
Resposta: Tem coisas que não escolhemos, apenas sigo a
orientação do orixá. As pessoas me procuram e faço que deve ser feito não
existe expectativas apenas sigo as orientações de Ifá.
Você já sofreu algum preconceito por ser tão jovem?
Resposta: No começo de minha vida sacerdotal, sim. Quando
abrí casa de santo tinha apenas 23 anos, era difícil para algumas pessoas
procurar ajuda espiritual e dar de cara com um menino, isso era tão comum que
todas as pessoas que iniciei nos primeiros barcos eram mais velhas do que eu . Quando
as pessoas passam a conhecer a minha realidade dentro do axé essas divergências
desaparecem.
Você já sofreu algum preconceito com relação a religião?
Resposta: Sofremos preconceito todos os dias. Somos
perseguidos quando usamos branco, quando fazemos nossas oferendas em locais
públicos, quando precisamos cumprir nossos resguardos. Os radicalistas cristãos
estão sempre prontos a jogar sua religiosidade em nossa goela abaixo, seja na
porta de nossas casas, nos transportes públicos ou em eventos. Porém, acredito que
estamos politicamente mais articulados, cientes dos nossos direitos e prontos
para o diálogo
Esse tempo dentro do Axé o que mais lhe marcou?
Resposta: É sempre emocionante nas festas de meu orixá ver
todas aquelas pessoas reunidas, pessoas que nunca tinham visto, que não eram de
minha família, mas que por obra do destino foram por mim iniciadas no candomblé.
Pensar que raspei cada uma daquelas cabeças, vir nascer cada orixá, vivi
momentos de lágrimas e sorrisos. É algo muito forte.
Algum filho seu já sofreu algum tipo de preconceito?
Resposta: Claro, já tive que ir na escola, no trabalho de
filhos, resolver pendências ou situações de constrangimentos, momentos da
necessidade de cumprir o resguardo do orixá. Nesses momentos, não deixo de ir
pessoalmente resolver essas questões, pois cabe a mim como sacerdote zelar por aqueles
pelo qual sou responsável.
O que você acha dos sacerdotes usarem redes sociais para
dizer piadas e reclamar com os filhos de santo?
Resposta: Eu acredito que certos comportamentos vem da criação, vem de família.
A etiqueta e o bom tom são sempre bem vindos nas redes sociais, ninguém precisa
ouvir grosserias ou lamentações, isso deve ser dito diretamente e se possível
pessoalmente a quem o pai ou a mãe deve educar.
O que você diria a um pai (máe) de santo que tem esse
comportamento?
Resposta: Não tenho que dizer nada, cada um dá o que
recebeu, e não cabe a mim corrigir ninguém, cada um na sua.
O fato de ser gay ou lésbica,negro ou branco impede de ser iniciado no axé?
Resposta: Se você observou há uma enorme diversidade de
gêneros, raças, opções sexuais dentro das casas de santo. Somos uma religião que
abraça a essência da pessoa e não outros aspectos que não nos cabe.
Há algum tipo de seleção para se iniciar no santo?
Resposta: Não, não somos uma empresa.
O que você diria aos sacerdotes que estão abrindo roça,
mexendo com o povo, com a vida das pessoas?
Resposta: Não diria nada, não cabe a mim.
Você tem algum pai ou mãe que você se espelha?
Resposta: Meu pai Gilson, minha mãe Lourdes, pai Valtinho,
um grande professor, mãe Jojó do Alaketu e pai Farodê, Mãe Vera de Iansã que
são exemplos dentro da religião.
Entrevista cedida com muito carinho pelo Babá Rychelmy Imbiriba ao contosdeumaabia.
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